O presente artigo de autoria de Keating et al (2014) traz como principal contribuição os efeitos do chamado High Intensity Interval Training (HIIT) - que envolve explosões repetidas de exercício vigoroso intercaladas com recuperação de baixa intensidade - em comparação aos resultados alcançados por meio dos treinamentos aeróbios tradicionais, de característica contínua e regular.
Tais efeitos incluem o aumento da aptidão cardiorrespiratória e capacidade de trabalho, aumento da biogênese mitocondrial muscular e níveis de GLUT-4, melhorando a sensibilidade à insulina. Em alguns desses casos, os benefícios do HIIT foram alcançados com 50-60% do tempo de treinamento usado em treinamentos aeróbios tradicionais regulares e contínuos.
Mas como a maior parte das pesquisas que evidenciam os benefícios do treinamento HIIT não puderam isolá-los da influência dos efeitos obtidos a partir de outras técnicas ligadas à perda de massa corporal, massa gorda e circunferência da cintura, como os treinamentos aeróbios tradicionais, ou intervenções com dietas, os autores propuseram a realização de um estudo com duração de doze semanas em três grupos - controle, com treinamento HIIT e com treinamento aeróbio contínuo - para compreender os efeitos isolados do HIIT relacionados à composição corporal e factores de risco cardiovasculares em adultos acima do peso, previamente inativos.
Para realização do estudo, os autores contataram inicialmente com 106 indivíduos, dos quais foram selecionados 38 indivíduos inativos, com idade entre 18 e 55 anos e com excesso de peso (IMC 25 a 29,9), sendo homens (n = 7) e mulheres (n = 31) aleatoriamente selecionados em três diferentes grupos para receber três sessões de treino por semana durante 12 semanas. Um grupo trabalhou treinamento HIIT, outro exercício contínuo de intensidade moderada (CONT), e o terceiro intervenção de exercício placebo (PLA). Os participantes foram recrutados entre junho de 2010 e outubro de 2012 por meio de painéis de avisos universitários, boletins eletrônicos e bancos de dados de ensaios clínicos. Foram descartadas a participação de voluntários que apresentavam doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.
Os resultados primários alcançados na pesquisa basearam-se na avaliação sobre as mudanças na aptidão cardiorrespiratória e distribuição da gordura corporal dos indivíduos, avaliada através de um teste de exercício máximo num ciclo-ergómetro com travagem electrónica e que, após um aquecimento de 3 minutos a 35W e 65W para mulheres e homens, respectivamente, a intensidade foi aumentada em 25W a cada 150 segundos até a fadiga. A freqüência cardíaca, a pressão arterial e o ECG foram registrados em cada estágio, além da avaliação do esforço percebido usando a escala de Borg. O teste foi encerrado a medida que a o indivíduos não conseguia pedalar mais que 50 rotações por minuto.
No que diz respeito à avaliação das medidas antropométricas, a distribuição de gordura corporal total e regional foram medidas por absorciometria de raios-X de energia dupla (DEXA), além da medição da circunferência da cintura, da pressão sanguínea, amostras de sangue, e padrão de atividade física e alimentar, que permaneceram inalterados durante o período de realização do estudo.
Com relação aos métodos de treinamento, enquanto o primeiro grupo foi levado a realizar atividade em bicicleta que intercalavam quatro sessões de vigorosa intensidade (120% do pico de VO2max) com descansos em baixa intensidade, um outro grupo realizou atividades de média intensidade (de 50% a 65% do pico de VO2max), e o terceiro grupo realizou atividades de alongamento e auto-massagem.
De acordo com os resultados da pesquisa, houve ganho significativo de capacidade cardiorespiratória nos grupos HIIT (~22,3%) e CONT (~23,8%), e pouca melhora no grupo PLA (~3,1%), não havendo diferença significativa apresentada entre os grupos HIIT e CONT. Quanto à massa corporal, no entanto, o estudo não apresentou mudança significativa para nenhum dos três grupos estudados, não havendo alterações na composição da massa magra. Em relação à massa gorda, contudo, houve ligeira perda apenas no grupo CONT (~2,6%), acima dos resultados apresentados nos grupos HIIT (~0,3%) e PLA (~0,7%), mantendo-se esta mesma relação para redução da gordura visceral.
Dessa maneira, os autores concluem que através do método randomizado de distribuição dos indivíduos nos três grupos citados para um treinamento com duração de 12 semanas, a técnica HIIT resultou em uma melhoria semelhante na capacidade cardiorespiratória que a induzida pelo exercício aeróbio contínuo. Além disso, a melhora do condicionamento físico induzida pelo HIIT foi obtida em apenas ~ 50-60% do tempo gasto com o mesmo ganho de aptidão através do exercício aeróbio contínuo (60-72 minutos versus 108-144 minutos por semana).
No entanto, embora HIIT tenha sido sugerido como método eficaz para a gestão dos níveis de gordura corporal, os autores evidenciam que é o exercício aeróbio contínuo, e não o HIIT, que mais reduz a gordura corporal total em adultos previamente inativos, com excesso de peso. Embora o HIIT seja um meio eficaz para alcançar uma melhor aptidão física, não deve ser promovido como um meio eficaz para a perda de gordura e melhoria da distribuição de gordura para esta população.
Bibliografia:
KEATING, Shelley E. et alli. Continuous exercise but not High Intensity Interval Training improves fat distribution in overweight adults. Journal of Obesity. Volume 2014, article ID 834865, 12 pages.