segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Resenha de "Sedentarismo, exercício físico e doenças crônicas"

Marca dos novos tempos e hábitos de vida contemporâneos, o sedentarismo se tornou uma das principais causas que levam ao aumento das doenças crônicas no Brasil e no mundo, tornando-se por isso, o centro de discussão e objeto de diversos estudos e políticas públicas na atualidade, especialmente àqueles que enxergam na atividade física um potente fator de promoção à saúde.

De acordo com o artigo “Sedentarismo, exercício físico e doenças crônicas”, elaborado por Bruno Gualano e Taís Tinutti, o entendimento sobre os benefícios adquiridos pela atividade física já eram largamente empregados na antiguidade, ganhando destaque nos registros de alguns renomados filósofos como Sócrates, Hipócreates, Platão e Juvenal, que adotavam como ideia geral que para a mente ser sã, seria fundamental que o corpo também o fosse.

Embora com o passar dos séculos a evolução dos conhecimentos científicos tenham revelado o exercício físico como ferramenta crucial na promoção de saúde, paradoxalmente temos assistimos a uma redução gradativa nos níveis de atividade física das populações modernas. Segundo os autores, a inatividade física aumenta substancialmente a incidência relativa de doença arterial coronariana (45%), infarto agudo do miocárdio (60%), hipertensão arterial (30%), câncer de cólon (41%), câncer de mama (31%), diabetes do tipo II (50%) e osteoporose (59%)”. Da mesma forma, a inatividade física também está associada à mortalidade, obesidade, maior incidência de queda e debilidade física em idosos, dislipidemia, depressão, demência, ansiedade e alterações do humor. Para eles, 70% da população adulta não atinge os níveis mínimos recomendados de atividade física.

Outro ônus derivado da inatividade física contemporânea está associado aos altos custos com a saúde, isto é, aos gastos incorporados pelos sistemas de saúde para o tratamento de doenças crônicas incorretamente tratadas, alcançando cifras astronômicas da ordem de trilhões de dólares por ano.

Para Gualano e Tinutti, o que tornou a inatividade física esta grande vilã da saúde pública é o comportamento da vida moderna, uma vez que com o advento das revoluções industriais e tecnológicas, o alimento tornou-se abundante e a todo o momento disponível. A atividade física crucial em tempos remotos para obtenção do alimento, desta forma, se tornou dispensável na modernidade, levando à emergência de síndromes metabólicas, obesidade, e de uma série de pandemias associadas a doenças crônicas que afligem as sociedades atuais.

Entre as alternativas para a resolução destes problemas, os autores sugerem a existência de dois caminhos: 1) Alteração no ambiente do homem moderno; ou 2) Alteração dos genes do homem moderno. E embora a primeira opção soe como a mais sensata medida de saúde pública a ser adotada, há uma enormidade de tentativas milionárias e mal sucedidas de desenvolvimento de terapias gênicas experimentais, com o intuito de criar uma pílula “mágica” capaz de replicar os efeitos do exercício, sendo mais largamente conhecida como “pílula do exercício”, mas cujos efetivos resultados ainda carecem de comprovações científicas.

No extremo oposto, o vasto espectro de ação do exercício físico sobre o organismo apresenta baixíssimas taxas de prevalência e gravidade de efeitos adversos, além de baixo custo para o seu emprego, sendo absolutamente efetivo como agente terapêutico. Para os autores, com exceção dos órgãos sensoriais, que parecem não serem influenciados pelo exercício, todos os demais sistemas podem ser beneficamente modulados pela prática regular de atividade física. Desta maneira, a prática de exercícios tem sido considerada tratamento de primeira linha para o tratamento de diversas doenças crônicas, entre outras patologias características do estilo de vida moderno.

Do profissional de Educação Física, por sua vez, espera-se engajamento para promover saúde e reinserir a atividade física na vida da população, por meio de um entendimento completo dos mecanismos moleculares, bioquímicos, fisiológicos e biomecânicos pelos quais a inatividade física afeta o funcionamento fisiológico humano.

Bibliografia:


GUALANO, Bruno & TINUTTI, Taís. Sedentarismo, exercício físico e doenças crônicas. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo, v.25, p.37-43, dez. 2011. Também disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1807-55092011000500005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em 04/10/2016.